Todas as Comunidades Terapêuticas têm a sua própria estrutura organizacional, estrutura de regras e normas implícitas e explícitas, sempre enquadradas nas suas respectivas crenças e culturas. O nível de adesão, o investimento pessoal e a lealdade de cada membro da Comunidade em relação à sua Comunidade específica, determina o grau de sucesso da mesma. Da mesma forma que o grau de inter-relacionamento e interdependência de cada comunidade com as outras existentes em cada cultura determina o sucesso ou o fracasso não só da coesão social geral, mas igualmente da construção identitária individual.
Assim, a Comunidade Terapêutica na área das dependências utiliza a comunidade como método para atingir o fim da mudança individual no sentido de cada membro modificar a sua relação com as substâncias para modificar o seu estilo de vida e adquirir um estilo de vida mais saudável, preferencialmente sem recurso ao consumo de substâncias. Assim, tanto a estrutura da Comunidade Terapêutica (condições habitacionais, de lazer, de salas, condições de desporto, etc.), como a sua população (funcionários e residentes) e a organização do seu dia-a-dia (reuniões de grupo, terapias individuais, tempos livres, etc.) são organizados no sentido de serem representativos do método de tratamento escolhido e praticado.
Através de uma atenção personalizada dirigida ao utente, mediante diagnóstico e estabelecimento de um projecto de tratamento individualizado, o Modelo Hierárquico integra, na vida em grupo, os instrumentos necessários em que é proposta uma hierarquia de valores e de relações, com vista a conseguir um desenvolvimento pessoal, autonomia, e responsabilidade progressivas do utente, para uma integração familiar, social e laboral.
Esta Comunidade Terapêutica tem uma intervenção Cognitivo-Comportamental e rege-se pelo Modelo Hierárquico, onde coexiste uma estrutura de grupos hierárquicos com base nas atitudes adoptadas pelos utentes, num circuito funcional de distribuição de responsabilidade. Assim e ao longo do programa terapêutico diferenciam-se 5 fases evolutivas.
1. Grupo de Integração (15 dias)
É considerado um momento de acolhimento para o utente e adaptação ao sistema comunitário da
Associação Minha Casa.
2. Grupo de Afirmação (4 meses)
Estando as dificuldades identificadas e os objectivos previamente definidos no Grupo
anterior, nesta fase existe uma ruptura efectiva com o mundo exterior, favorecendo assim a
reflexão sobre as dificuldades actuais e a definição de objectivos futuros.
3. Grupo de Acção (4 meses)
Caracteriza-se por uma intervenção psicoterapêutica mais intensa que, engloba também a rede
familiar. Há uma maior responsabilização do utente relativamente ao grupo e um maior
envolvimento na realização de actividades com o intuito de promover as competências sociais.
4. Grupo de Realização (4 meses)
Esta fase privilegia o indivíduo e o seu comportamento, orientado sobretudo para a promoção
de competências de vida, através da criação de recursos que respondam às necessidades dos
indivíduos. As competências pessoais estão relacionadas com a capacidade de desenvolver
projectos com autonomia, auto-confiança, auto-estima, aptidões de comunicação,
desenvolvimento dos processos de assertividade e capacidade para estabelecer relações
afectivas estáveis.
5. Grupo de Reinserção (3 meses)
Caracteriza-se por uma intervenção psicoterapêutica mais intensa que, engloba também a rede
familiar. Há uma maior responsabilização do utente relativamente ao grupo e um maior
envolvimento na realização de actividades com o intuito de promover as competências sociais.
Pressupõe a concretização do Plano de Inserção, devendo o utente com autonomia regulada pela Equipa Técnica realizar saídas para prospecção de mercado de trabalho, garantindo as condições necessárias à sua autonomização. Neste grupo, naturalmente existe um acompanhamento psicoterapêutico de preparação para a saída.
Esta estrutura de grupos, embora não seja estanque pretende que o utente planeie o seu futuro balizando as suas necessidades pessoais e individuais, não esquecendo o conceito de grupo como analogia à vivência em sociedade. Além desta estrutura organizacional formal, existe também uma estrutura mais informal que é estabelecida por meio das relações interpessoais. Ela não é oficial e não define a interacção interpessoal, mas reflecte as ligações espontâneas que se formam entre os pares e colaboradores.
Em suma, acredita-se que o tratamento do indivíduo dependente, inserido num quadro institucional, pressupõe uma diversidade de factores que devem ser considerados com vista à melhoria dos serviços prestados e ao aumento da eficácia das estratégias psicoterapêuticas disponíveis. Realça-se fundamentalmente, a presença de uma abordagem pluridisciplinar, a definição da figura do gestor de cuidados (psicólogo ou terapeuta), a importância da elaboração de planos individuais de tratamento que possibilitem uma melhor monitorização da evolução do mesmo.