É benéfico complementar o tratamento iniciado em regime de ambulatório com o internamento prolongado em Comunidade Terapêutica.
Neste tipo de internamento utilizam-se como meios terapêuticos, essencialmente, quatro instrumentos:
- A vida comunitária como forma de encontrar o prazer de comunicar, de partilhar, de ajudar e de se sentir reconhecido;
- A abordagem psicoterapêutica como forma de reencontro consigo próprio, da descoberta do seu mundo intrapsíquico e da sua vida de relação;
- O lazer, como forma de permitir a diferenciação, a escolha, e também o gratuito e o divertimento;
- O trabalho, como forma de criar ou recuperar a confiança nas próprias capacidades.
É fundamental reconhecer que, no processo terapêutico no domínio dos comportamentos adictivos:
- Não há nenhum método de tratamento que por si só garanta a resolução de todos os dependentes: as drogas são diferentes e as pessoas também.
- Curar não é apenas parar com os consumos. É preciso reaprender a viver, reformulando/readquirindo um projecto de vida.
- O tratamento envolve a coordenação de uma equipa multidisciplinar, centrada no utente, mas que por vezes implica também acção sobre o ambiente envolvente – família, amigos, trabalho, lazer.
- Durante o tratamento existem avanços e recuos.
A base Teórica desta Comunidade Terapêutica é a Intervenção Cognitivo-Comportamental.
As teorias cognitivo-comportamentais têm contribuído bastante para o avanço dos conhecimentos sobre as origens e o tratamento das adicções. A ideia de basear o tratamento no conhecimento do processo psicológico responsável pelo comportamento humano favoreceu a emergência de muitas técnicas terapêuticas, inovadoras e eficazes.
As terapias cognitivo-comportamentais têm raízes:
- Na Teoria Comportamental, focando o condicionamento operante, segundo o qual a escolha de um comportamento por parte de um indivíduo terá consequências específicas;
- Na Teoria de Aprendizagem Cognitivo-Social, de que procedem as ideias relativas à aprendizagem por observação, à influência do modeling e ao papel das expectativas cognitivas no determinismo comportamental;
- Na Teoria Cognitiva, que estuda os pensamentos, as emoções, as crenças, as atitudes e as atribuições que influenciam os sentimentos do utente e estabelecem uma ponte entre os seus antecedentes e o seu comportamento.
Todas estas concepções convergiram para produzir um modelo de terapia cognitivo-comportamental específico para as adicções que ajuda os utentes a reconhecerem, evitarem e enfrentarem.
Este modelo de base apoia-se em três pilares:
- Análise Funcional: Efectua-se uma avaliação, identificando os pensamentos, os sentimentos e as circunstâncias anteriores e posteriores ao consumo da substância. Esta ferramenta desempenha um papel importante desde o início do tratamento, oferecendo aos protagonistas a possibilidade de avaliarem as determinantes ou as situações de alto risco que poderão conduzir ao consumo e permite compreender algumas razões subjacentes (enfrentar dificuldades pessoais, ajudar a dormir, entre outros).
- Treino de Eficácia no Coping: O principal elemento das terapias cognitivo-comportamentais é o desenvolvimento desta capacidade, uma vez que se considera que os consumidores de substâncias psicoactivas apresentam um défice na capacidade de coping. Por outras palavras, admite-se que as suas estratégias de adaptação às situações difíceis (emocionalmente dolorosas) ou socialmente tentadoras são pouco eficazes
- Prevenção da Recaída: Esta abordagem está intimamente ligada à análise funcional, à identificação das situações de alto risco de recaída e ao treino de eficácia no coping. Permite o reconhecimento das situações susceptíveis de expor o sujeito a um risco de recaída e o desenvolvimento de competências que lhe permitem evitar essas situações ou reagir-lhes sem recorrer ao consumo da substância.
Colocando a tónica nos diferentes aspectos do processo de mudança (baseando-se a entrevista motivacional no “porquê” de o utente poder modificar o seu consumo e a terapia cognitivo-comportamental no “como” fazê-lo), estas abordagens são perfeitamente complementares num quadro terapêutico. Esta abordagem terapêutica é particularmente vantajosa pela sua flexibilidade, pois permite que sejam associadas outras abordagens, nomeadamente a terapia familiar ou a farmacoterapia, podendo estas ser também aplicadas em diferentes ambientes terapêuticos.